Dragões Púrpura
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Encontros inesperados.

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Mensagem por Liezel, A Luz da Aurora Ter Jun 04, 2013 5:39 pm

Não era tão difícil assim escapar para aquelas terras distantes, a maior parte dos olhares estavam voltados para os Sertões ou Pandaria, portanto, atravessar meio mundo para chegar nos extremos de Kalimdor não era, exatamente uma tarefa difícil, ainda mais para alguém com tantas habilidades para se locomover como ela. O que lhe irritava não era a viagem em si, até gostava de fazê-la, de alçar voo para o mais alto que pudesse, de observar acima das nuvens, ou também de mergulhar no mais profundo dos mares. A viagem na verdade era uma pequena compensação pelo que teria de fazer. E pensar sobre isso acabava apenas acentuando sua irritação, questionava-se constantemente até onde os problemas de Alamara se tornariam os seus problemas e o quanto isso lhe afetaria. Seu caminho costumava estar traçado, e agora era apenas uma bagunça em sua cabeça, por que insistia em ajudá-la? Por que desejava ajudá-la?

Esses questionamentos ficavam para trás, conforme se aproximava da costa onde sabia que suas habilidades de voo seriam inúteis, teria de ir por mar por algum tempo, e após isso, a pé. Não que isso fosse problema, a costa das Ilhas Névoa Lazúli eram particularmente vazias, e com suas habilidades metamórficas de druida, poderia passar desapercebida pela mata. A questão era; como achá-la? O rastro tinha levado até ali, mas não era certeza que a Sacerdotisa seria encontrada, e se estivesse no interior daquela construção alienígena, não poderia chegar até ela. Contava com a sorte e com a boa disposição dos Espíritos para lhe ajudar. Talvez se tudo desse errado, fosse apenas um recado de que as coisas deveriam ficar como estavam.

Mas Alamara precisava disso.

E enquanto Alamara não sossegasse, ela não conseguiria sossegar, havia algo na inquietude da Elfa que lhe incomodava, como se fosse sua própria inquietação, e vê-la fazer-se em pedaços começava a incomodar de uma forma nova, devastadora e insuportável. As coisas eram simples, ao menos em sua visão minimalista do mundo, tudo era muito simples: se você tem que ir até o fundo, vá. A queda é inevitável? Ótimo, aproveite a vista.

Era como pensava, mas eles não pareciam pensar assim.

Ao chegar em terra, ela cerceou a mata, evitando as vilas, as estradas, animais e vigilantes. Mantinha o focinho no chão e os olhos ao redor, afinal, qualquer idiota com um cérebro saberia que aquilo era grande demais para ser um lobo, e que leões não tinham chifres. Preferia também que o Paladino não estivesse lá, ter de lidar com suas encheções sobre benevolências e atitudes altruístas destruiria seu dia; no fundo, simplesmente não acreditava que alguém pudesse ser completamente bom o tempo todo, como ele tentava parecer ser. Talvez lidar com a Sacerdotisa sozinha fosse mais fácil; não a conhecia, mas Alamara... Diabos! Por que estava considerando o que Alamara havia lhe dito? Alamara dizia um monte de besteiras.

As horas passavam como segundos lentos e tortuosos, cada passo parecia lhe afastar de seu real objetivo, e começou a achar que estava andando em círculos, e a ideia de ir embora parecia bastante agradável. Não era problema seu, afinal de contas... Então desceu a costa, atravessando a mata e aproximando-se da areia, foi quando a avistou.

Da primeira vez que a tinha visto, sentirá algo tão estranho sobre aquela criatura. Draeneis eram seres distantes de sua cultura, algo que sabia existir, mas com contato tão limitado que vê-los tão de perto, fora de um campo de batalha era estranho. Mas aquela em questão lhe era ainda mais estranha, provavelmente aquela sensação de eterna serenidade... A serenidade excessiva lhe incomodava. Ela cerceou a praia, observando a sacerdotisa brincar com algumas crianças, as barras do seu vestido branco estavam sujas de areia e água, mas ela não parecia se incomodar, muito pelo contrário, havia uma satisfação em seu rosto liso, e seus olhos de luz transmitiam paz. A coisa em sua cabeça, que Nakine não sabia definir exatamente o que era, lhe proporcionava áreas divinos, de criatura iluminada, e por um instante a Taurena ficou ali, parada às sombras de suas habilidades, observando, analisava, e achava que o modo como a sacerdotisa brincava com as crianças, revelava que logo haveriam pequenas abominaçõezinhas perambulando por ai, o que lhe fez pensar; seriam humanos azuis ou draeneis branquelos? Riu-se silenciosamente.

Pacientemente ela aguardou, aquelas crianças deveriam ir embora em algum momento, e mesmo que parecesse uma eternidade, ficou ali, parada, oculta. Depois de alguns tediosos momentos de espera, alguém apareceu; era outro daquela raça, mas um macho, o sujeito era tão grande quanto um Tauren, mas tão sereno quanto a sacerdotisa. Não deixou de considerar que quem tinha chifres naquela relação não era exatamente a draenaia, mas isso caiu por terra, quando apenas cumprimentaram-se respeitosamente. Ela reuniu as crianças e o sujeito as guiou, a sacerdotisa seguia logo atrás; era agora, sua talvez única oportunidade de separá-la do grupo. Ela recuou, carregando uma pedra na boca, até encontrar um lugar seguro, e lá, voltou à forma natural e atirou a pedra contra a draenaia, a sacerdotisa virou-se, confusa, observando às costas. Os outros se afastavam, era a hora.

– Treinando para suas pequenas aberraçõezinhas? – Indagou a Druidesa, ela ouviu a mulher suspirar pesadamente e virar-se na direção dos arbustos onde se ocultava.

– Do que está falando? – Retornou a sacerdotisa, Liezel tinha uma voz suave, macia e leve. Aquilo não surpreendeu Nakine, tudo naquela draenaia parecia sútil e doce. Nakine retornou à forma felina antes de deixar a segurança do seu esconderijo, sempre atenta ao redor. – Não vão voltar, druidesa. – Afirmou a sacerdotisa, que observava os pequenos detalhes em sua forma felina; Nakine sabia que ela tinha plena consciência que não lidava com um elfo ou um worgen.

– Eu vou ser rápida. – Disse Nakine. – Você me deve uma. – Afirmou, sem paciência para explicações; viu o cenho perfeito da sacerdotisa franzir-se e revirou os olhos notando a confusão. – Eu sou a Taurena que avisou seu humano do perigo. Você me deve uma, e eu vim cobrar.

Era interessante notar que a sacerdotisa não parecia impaciente ou irritada, talvez um pouco desconfortável com a situação, mas isso era tudo. Nakine às vezes conseguia compreender o por que do Paladino ter-se atraído tanto por aquela criatura, mesmo diante da berrante diferença racial; ela era pura e completa Luz. Mas Nakine também notou em como sua expressão se alterou, quando falou o que viera para falar.

– Eu quero que volte lá e escute o que Alamara tem para te dizer. – Disparou a Taurena, Liezel suspirou profundamente, cruzando os braços. – Ela precisa disso.

– E a respeito do que eu preciso?

- E o que mais você pode querer?! Você tem o horrível humano, e logo poderá ter horríveis filhotes, e tem seus horríveis amigos, aliados, admiradores! O que mais você pode querer? Você tem tudo! Você me deve isso, por que se não fosse por mim talvez vocês nem estivessem juntos agora, por que se eu não o tivesse alertado a coisa toda poderia ter sido pior, poderia ter sido muito pior. Você me deve isso.

Houve silêncio entre as duas, um silêncio perturbador para Nakine, Liezel a encarava e de certa forma, ela sentia o peso daquele olhar; era uma criatura mais velha, mais poderosa. Mas não se intimidava, sustentou o olhar mesmo diante do arrepiar dos pelos de todo o seu corpo felino.

– Eu não devo nada a você. – Finalmente falou a sacerdotisa, naquela serenidade infinita que estava começando a lhe irritar. – Posso ser grata pelo que fez, mas nunca lhe devi coisa alguma. – Nakine rosnou de leve, de frustração e raiva. – Alamara cruzou a linha...

– Você não pode julgá-la, não foi um ato solitário.

– Não houve reciprocidade.

– Não houve. Então o que te impede de ouvir o que ela tem a dizer? Ele é seu. Só tem olhos para você. Agora ela sabe, mais do que nunca.

– Você não entenderia... Ela é como uma... Sombra sobre mim.

– Ah, tenha piedade, olha o tamanho do seu decote! Ela não pode competir com isso.

Liezel arqueou as sobrancelhas, confusa com aquela afirmação e observou o próprio busto por um instante, antes de voltar a atenção a Taurena, Sha'tar estava certo, ela falava de forma confusa e enigmática, que lhe deixava um tanto desconsertada, mas era estranho o modo como do seu jeito rude e com sua falta de tato... Parecia ter boas intenções; a conversa que tivera com Viajante retornou a sua mente. Talvez fosse importante – importante ao ponto de fazer uma Taurena viajar até Exodar -, ou talvez... Ela suspirou. Nakine estava cada vez mais impaciente, aquilo era pior do que imaginava.

- Não entendo...

Nakine virou o focinho para o lado por um instante, cuspindo um: - Idiota.

– O quê?

– Nada.

E de novo ficaram em silêncio, encarando-se como duas estranhas, Nakine se encheu.

– Olha, você não tem nada a perder, vai lá, escuta; ela só vai dizer o quanto sente muito, o quanto bláblábláblábláblá, que vocês tanto gostam de fazer. Não vai tomar mais do que um minuto, e você é uma daquelas coisas boazinhas, não deveria fazer sacrifícios pelo bem estar dos outros? Não vai ser problema pra você, dois minutos, menos até. Você vai virar as costas e ir embora, mas eu não posso fazer isso, eu tenho que ficar aturando toda aquela ladainha! Eu sei que você tá zangada, eu sei que está irritada, mas deixe isso de lado por um momentinho, está certo? Um momentinho e escute a choradeira daquela orelhuda magrela. Depois disso, eu juro, você nunca mais vai ouvir da gente.

Liezel a encarou, sempre naquele silencio insuportável, Nakine respirou fundo, e estava lhe dando as costas quando a sacerdotisa falou.

– Sha'tar tinha razão. – Disse, mas que diabos era um Sha'tar? A Druidesa não fazia ideia.

– Você parece ser uma boa amiga para ela. – Nakine não se virou, permaneceu de costas. – No Templo da Amizade, estarei lá, e esta será a última vez. – A druidesa moveu a cabeça em positivo, e afastou-se, ao longe, ocultando-se nas sombras. Havia mais alguém que precisava visitar naquele dia... Aquela história tinha de ter um ponto final, e tinha de ter logo.
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Mensagem por Viajante, o Cruzado Qua Jun 05, 2013 5:20 pm

Sob o forte sol, o escornante pastava tranquilamente nos campos entre a praia e as montanhas da Ilha de Gigantes. O grande animal era um adulto imponente, seus chifres e couraça carregando cicatrizes de incontáveis duelos com rivais e predadores. Grande demais mesmo para a maioria dos demossauros que rondavam a ilha, o monstro sáurico parecia confiante em sua força e tamanho para protegê-lo de quaisquer perigos.

Ainda assim, escondida entre os arbustos, a elfa sangrenta Alamara fitava o grande animal que vinha espreitando há cerca de uma hora. Loupram, o lobo branco que a acompanhava, permanecia em silêncio ao lado dela.

A elfa não estava lá à toa. A Ilha praticamente se tornara o novo refúgio de Alamara desde que o último esconderijo dela fora descoberto por seus perseguidores. A Ilha era perigosa, ela sabia, mas remota, sem habitantes permanentes, com exceção daquele troll amaldiçoado e insano que se refugiava numa caverna na costa oeste. Mesmo os dinomantes zandalari vinham e iam sem preocupações em permanecerem ali por mais do que alguns dias.

O imenso escornante continuou a pastar sem muita preocupação, enquanto o olhar preciso de Alamara buscava um ponto fraco na couraça do animal. Ela já tinha abatido escornantes antes, bem como alguns demossauros, mas todos filhotes. Os adultos, porém, sempre a superaram, forçando-a a fugir ou fingir-se de morta para escapar após serem provocá-los com flechas que apenas resvalavam em suas grossas couraças.

Mas aquela vez seria diferente. Desde que chegara naquela terra erma e selvagem, Alamara lutara pela sobrevivência, aprendendo os segredos do relevo e lutando contra dinossauros cada vez maiores e mais ferozes. As experiências na Ilha certamente a ensinaram que suas técnicas com o arco, por mais impressionantes que fossem, ainda precisavam ser aprimoradas, e aquele escornante adulto seria seu próximo grande desafio.

Os olhos apurados da elfa, verdes antes mesmo de terem sido corrompidos pela energia vil que quase condenou seu povo, logo encontraram um ponto fraco na armadura de sua presa. Num piscar de olhos, a elfa de cabelos vermelhos cobriu a cabeça com o capuz de seu manto esmeralda e sacou o arco rústico que levava às costas. Ao mesmo tempo em que liberou o voo preciso da flecha, Alamara murmurou um comando em talassiano ao seu lobo.

O escornante urrou em dor, surpresa e fúria. Loupram, o lobo, avançou sobre o monstro, atraindo sua atenção ao mesmo tempo em que desviava-se de golpes da poderosa cauda da fera. Alamara puxou a segunda flecha, armando-a no arco e preparando o segundo disparo. Uma longa e perigosa batalha começava.

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Horas tinham se passado, e a elfa ofegante e ensanguentada finalmente baixava o capuz que cobria-lhe a cabeça, mais uma vez revelando ao mundo seus longos cabelos vermelhos. Adiante, o escornante tombado ofegava seus últimos suspiros, lutando para erguer-se mas sem forças suficientes para obter êxito.

A criatura lutara muito mais do que Alamara previra. Apesar dos tiros certeiros penetrarem a macia carne entre as placas ósseas da armadura do monstro, a luta pareceu durar uma eternidade, um jogo de gato e rato que envolvia desviar dos avanços mortais dos chifres do monstro, ganhar distância e continuar disparando. Por pouco a aljava de Alamara não tinha se esgotado; ela decerto perderia horas da noite seguinte fabricando mais flechas, uma velha técnica que aprendera com os patrulheiros de sua distante Quel'thalas.

Alamara sorriu ao ver o fiel companheiro, Loupram o lobo branco, alcançá-la. Ele também estava ferido e cansado, mas felizmente vivo. O animal fora fundamental em distrair o escornante várias vezes durante o embate, dando à elfa chances para evadir os ataques e contra-atacar. Apesar do cansaço e dos ferimentos, a elfa ergueu os braços aos céus e instintivamente emitiu um urro de vitória.

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Alamara não se incomodou em montar acampamento nem acender uma fogueira: seus olhos enxergavam perfeitamente sob a luz das estrelas e do luar, e a temperatura não a incomodava de modo algum. Felizmente, as noites na Ilha eram quentes, e a elfa mais lamentava a falta de rios e lagos onde pudesse se refrescar.

Naquele instante, Alamara se concentrava em produzir flechas para o dia seguinte; provavelmente o faria por muitas horas ainda. O manto e a cota de malha que protegia seu torso estavam jogados ao seu lado, descartados para que ela pudesse tratar seus ferimentos com bandagens mais cedo. O lobo, Loupram, vigiava-a deitado no alto de um rochedo próximo.

Ali, naquele trabalho repetitivo sob o luar, inundada pelo som das ondas que batiam na falésia próxima, a mente de Alamara voltava-se ao passado. Tão diferente da concentração de batalha, em que se sentia forte e determinada, Alamara sentia-se triste e insegura nesses momentos de tranquilidade e solidão. Sem ter algo objetivo para distraí-la, suas incertezas sempre voltavam para atormentá-la.

Fantasmas antigos a assombravam, memórias dos tempos sombrios: a luta contra o Flagelo, a expulsão dos elfos superiores de Quel'thalas, as duras decisões que teve de acatar em nome dos Sin'dorei, de Kael'thas, dos Renegados de Sylvana e da Horda de Garrosh. Era alguma surpresa que em algum momento ela se veria dividida entre lealdade e moralidade? Alamara veio a Pandária meses atrás como uma campeã da Horda, mas agora se escondia como uma traidora, por ter impedido o assassinato de um alvo inimigo na Ilha do Trovão. Um alvo inimigo que sempre ofereceu a ela apenas compaixão, amizade... e amor...

As palavras do paladino naquele último encontro também a assombravam: "Você é uma boa pessoa, Alamara. Espero que busque sua felicidade". Seria mesmo verdade? Ela era uma boa pessoa? Mesmo após sacrificar tantas vezes sua consciência para proteger seu povo?

Um impacto repentino retirou a mente da elfa do labirinto de emoções e memórias em que se encontrava. Não era o baterintenso de metal ou rocha, nem o som de pegadas de um dos imensos dinossauros da Ilha; pelo contrário, era o som de algo leve caindo sobre a grama próxima. Não fossem os seus apurados sentidos élficos, Alamara provavelmente não teria percebido o som.

Ela aproximou-se então do objeto que produzira o impacto, um tubo de madeira arremessado por um pássaro cujo bater de asas estava cada vez mais distante. Alamara instintivamente sorriu, sabendo que sua amiga druida, Nakine, às vezes mandava-lhe mensagens como aquela através de animais ou outros druidas. Pegando o tubo e abrindo-o, a elfa viu deslizar para fora dele uma mensagem.

"Encontre-me amanhã à noite no Santuário da Amizade".

Santuário da Amizade... Isso ficava na Floresta de Jade, pensou Alamara. Ela precisaria se apressar se quisesse chegar lá a tempo. Logo começou a preparar seu equipamento, pois teria que partir e cruzar o mar ainda durante a noite. Descansaria algumas horas no continente, na Vila Zouchin, antes de partir para seu destino. Quanto às flechas, não teria tempo para fazê-las, mas poderia comprar algumas dos pandarens no continente.

Mal vestira a cota de malha e o manto, Alamara percebeu fogueiras, tochas e sons na praia mais distante da ilha. Aventureiros, às dezenas, se aglomeravam ali, muito mais do que qualquer um mandaria para capturar ou matar uma elfa solitária. Seriam Zandalari? Não, os ouvidos apurados dela conseguiam discernir gritos e bravatas não só em trólico, como em órquico e talassiano e até guturalês. A Ilha não tinha valor estratégico para exército algum, então Alamara se questionava porque estariam ali.

Aventureiros solitários não eram raros na Ilha de Gigantes, lembrou a elfa. Muitos vinham para explorar a Ilha ou caçar os dinossauros, subestimando as feras que ali viviam. Ela muitas vezes salvara incautos de todas as raças, seja da Horda ou da Aliança, de virarem comida de dinossauro. Mas aventureiros nunca vinham em números tão grandes, exceto para...

"Oondasta!", murmurou a elfa, pegando seu arco, cobrindo a cabeça com o capuz esmeralda e entoando para Loupram um comando em talassiano. O lobo saltou do rochedo e prontificou-se ao lado de sua mestra.

A elfa logo correu ao encontro da multidão. Com certeza a maioria deles morreria desafiando Oondasta, o maior e mais terrível demossauro da Ilha. Mas talvez a elfa pudesse salvar alguns da morte certa.

A maior preocupação de Alamara, contudo, era não se atrasar para encontrar Nakine.
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Mensagem por Viajante, o Cruzado Sex Jun 14, 2013 9:40 pm

Abaixando-se entre as moitas, Viajante apoiou-se no tronco da árvore, de onde podia ver o Santuário da Amizade. O paladino procurou não fazer barulho, embora a armadura insistisse em limitar seus movimentos e emitir sons indesejáveis. Não era seu hábito esgueirar-se, sentia-se desconfortável naquela posição. Contudo, a situação exigia discrição.

Adiante, conversavam Alamara e Liezel.

A taurena não mentira. Aquela druidesa fora responsável pelo encontro e o alertara sobre o que ocorreria. Viajante não a entendia bem, considerava-a rude e desconfiada, mas ele sentia confiança nela. Provavelmente ela estava ali por perto na mata, disfarçada de pássaro ou felino, espreitando nas árvores ou arbustos. Viajante não podia vê-la, mas tinha certeza de que, como ele, a druidesa estaria assegurando que tudo ali transcorreria bem.

O encontro de Alamara e Liezel trazia preocupação ao paladino. Ele sabia que ambas tinham questões pessoais a resolver, mas considerava aquele encontro prematuro e temia os resultados. Ali adiante estavam duas pessoas importantes para ele: um amor do passado e o amor presente. Ele temia a impulsividade da elfa e a insegurança da draenaia, e não tinha certeza se elas alcançariam uma resolução ou exarcebariam seu conflito.

Até então, tudo parecia tranquilo. Até onde Viajante podia perceber, nenhuma delas estava ciente da presença dele. Ele estava distante demais para entender perfeitamente o que conversavam, mas as expressões delas demonstravam ao mesmo tempo paciência e desconforto.

O paladino respirou aliviado quando notou as duas se despedindo. Ambas pareciam mais calmas do que no começo. Alamara deu alguns passos para trás, afastando-se de Liezel e cobrindo os cabelos com um capuz esmeralda. Então o olhar de Alamara se voltou a ele, e Viajante se sentiu incomodado ao notar que a elfa já o tinha percebido há algum tempo.

Por baixo do capuz, Alamara sorriu discretamente e, voltando-se a Liezel e erguendo o tom de voz para ser claramente ouvida por ele, disse: "Não estamos sozinhas aqui."

A revelação fez Liezel se espantar, procurando ao redor por mais alguém.

"Esses dois são péssimos em se esconder", riu Alamara, cobrindo o corpo esbelto sob o manto esverdeado, virando-se de costas e desaparecendo na mata.

Erguendo-se do esconderijo, Viajante sorriu quando o olhar de Liezel se voltou na direção dele. Tirando o elmo que cobria-lhe a cabeça e revelando os cabelos negros, Viajante caminhou lentamente na direção da draenaia, e ela na dele. Os olhares de ambos se encontraram, e ela sorriu em resposta.

"Sha'tar!", exclamou Liezel, usando o apelido que dera a Viajante e que ele gostava tanto. "Você sabia que eu viria aqui?", questionou a sacerdotisa.

"A taurena me avisou, e fiquei preocupado", respondeu o paladino, "Foi tudo bem?"

"Sim, Sha'tar", ela respondeu sorrindo.

Mais próximo dela, Viajante a admirou. Embora de raças diferentes e apesar de todas as críticas que ouvira em relação àquela união, ele via naquela draenaia um ser de imensa beleza. A ele, ela parecia um anjo de luz, com cabelos prateados e olhos de brilho sereno. Sua beleza era óbvia tanto em corpo como em espírito. Como amava aquela draenaia!

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Viajante despertou com uma batida leve na janela. Liezel dormia tranquilamente ao lado dele. Ainda era noite, e os sons da Floresta de Jade lá fora eram tranquilos. Ele quase adormeceu novamente, mas a batida se repetiu de novo e de novo, em intervalos espaçados, mas regulares. Com cuidado para não despertar a draenaia, o paladino se levantou da cama, assegurando que a companheira permanecesse coberta e aquecida. Vestindo uma calça e pegando sua espada, o paladino aproximou-se com cuidado da janela.

Quem poderia saber que eles estavam ali na Aldeia Rocha Verde? Após deixarem  o Santuário da Amizade, Viajante e Liezel não tinham pressa em retornar ao Vale das Flores Eternas, então decidiram descansar na pequena aldeia, que já tinham salvo no passado de um levante de elementais. Os pandarens dali ficaram satisfeitos em retribuir o casal oferecendo sua hospitalidade.

As batidas pararam quando ele alcançou a janela. Tocando o ouvido na madeira, o paladino buscou qualquer som suspeito: passos pesados, o som de movimento de uma armadura, ordens sussurradas por inimigos. Contudo, só ouvia os sons da mata.

Viajante abriu a janela com cuidado, mas tão logo ela começou a se abrir, uma grande ave ginchou e bateu asas, afastando-se rapidamente. De relance, o paladino viu a grande águia branca sumir na escuridão. Não era um pássaro típico de pandária... Ele já tinha visto aquela ave antes...

"Alamara?", ele murmurou, forçando os olhos para tentar penetrar a escuridão da mata.

Felizmente, era uma noite estrelada e de lua cheia. Logo um vulto esbelto surgiu das árvores, saltando com destreza e pousando com suavidade. O paladino reconheceu o manto e capuz esmeraldas da elfa, que se aproximou silenciosamente dele.

"Nathan", murmurou Alamara, aludindo ao nome que ele abandonara tantas décadas antes.

Viajante ergueu a espada e desejou ver, e a espada brilhou levemente com o poder da Luz Sagrada, o suficiente para revelar a figura diante dele. "Você estava nos seguindo?", ele questionou.

Por um instante, a elfa hesitou em responder, mas então removeu o capuz que cobria-lhe a cabeça, exibindo o rosto afinado, os olhos verdes luminosos e os cabelos longos e rubros. "Eu...", hesitou mais uma vez, "Sim... eu queria uma chance de falar com você, mas... desculpe... não esperava que vocês... na mata..."

O paladino ruborizou-se. "Você viu...?"

"Você continua o mesmo, Nathan", riu Alamara baixinho, olhando-o maliciosamente. "Sempre afoito, sempre impaciente..."

O paladino se recompôs. "Não foi para falar disso que veio até aqui, não é mesmo?"

Alamara o fitou, e o sorriso malicioso na face dela desapareceu. Por alguns instantes, ambos se analisaram. Aos olhos dele, ela ainda era a mesma da época em que ele era um jovem soldado. Os mesmos cabelos vermelhos, o mesmo rosto, o mesmo olhar curioso. A única coisa que mudara nela eram os olhos, que agora brilhavam suavemente em energias vis esverdeadas, fruto da corrupção dos elfos de Quel'thalas.

Para ela, por outro lado, ele mudara tanto... As rugas ao redor dos olhos revelavam que já não era mais um jovem, os cabelos tinham escurecido, a barba crescera. O olhar dele agora refletia experiência, paciência e sabedoria que o jovem Nathanael que ele fora jamais tivera. De muitas formas, o paladino diante dela era muito diferente do guerreiro que Alamara conhecera. Por um momento, a elfa contemplou a mortalidade na face daquele humano, e questionou se a draenaia tinha considerado que em poucas décadas ele faleceria e a deixaria só por uma eternidade... Aquele pensamento a deixou melancólica e forçou os pensamentos de Alamara a voltarem-se ao presente.

"Desculpe", disse ela, recompondo-se. "Eu vim apenas agradecer".

Viajante surpreendeu-se. "Agradecer? Pelo quê?"

"Por tudo", respondeu Alamara. "Você se tornou um modelo para mim. Eu quero fazer algo de bom com a vida que me resta."

Viajante estranhou o tom fatalista. Elfos podiam viver muitos séculos, alguns chegavam a alcançar até milênios de idade. Alamara ainda era tão jovem, mal devia ser considerada adulta por seu povo, e era tão estranho vê-la falar da própria vida como se estivesse fadada a terminar em breve. "Você está em apuros?", ele questionou.

A pergunta direta a surpreendeu. "Não", ela respondeu relutante, não conseguindo disfarçar. Notando que a resposta era uma mentira óbvia, a elfa se corrigiu: "Eu... desertei...", disse, escondendo os eventos por trás da atual condição dela como traidora da Horda. A elfa não queria que Viajante se sentisse culpado, muito menos queria que ele se envolvesse com a situação atual dela.

"Nós podemos ajudá-la", disse o paladino. "Minha opinião é ouvida tanto na Igreja como no exército. Eu posso interceder por você. Você poderia se juntar à Aliança..."

"Não!", Alamara o interrompeu, "Desculpe, Nathan, mas eu sou uma criminosa de guerra, tenho muito a responder para os dois lados. E estou farta desse conflito, não servirei mais ninguém além de minha consciência. Talvez eu ofereça meus serviços ao Círculo Cenariano ou à Cruzada Argêntea, não sei ainda, para me proteger de retaliações, mas essa é uma decisão para o futuro."

"Entendo", respondeu Viajante, um pouco desapontado pela recusa dela.

"Talvez algum dia eu mude de ideia, quem sabe?", ela murmurou, fitando-o. "Até lá, farei o que você me disse: serei uma boa pessoa, e buscarei minha felicidade. Fico feliz por você ter encontrado a sua. Foram muitos anos caminhando sozinho, não foram?"

Viajante pensou em Liezel e sorriu. "Sim. Por muito tempo eu me dediquei somente à Luz Sagrada. E finalmente alguém, e logo uma sacerdotisa da Luz, surgiu para me trazer paz."

"Ela é perfeita para você", a elfa admitiu, uma pitada de inveja em sua voz. "A presença que sinto perto dela, é como o que sinto emanando de você. Você foi recompensado por tudo o que fez", Alamara disse sorrindo, "Quem sabe um dia eu possa ser também?"

"Rogo que sim", disse Viajante, "Seja feliz, Alamara."

Alamara então cobriu a cabeça com o capuz novamente. Por baixo do capuz, ela fitou o paladino mais uma vez, ajoelhou-se e disse, baixando a cabeça: "Eu fiz uma promessa a Liezel, e repito-a a você: sempre estarei pronta para ajudá-los. Zelarei pela felicidade de vocês. Se algum dia precisar de ajuda, então eu, Alamara da família Seguerrios, Patrulheira de Quel'thalas, Andarilha desertora, quel'dorei e sin'dorei, estarei a seu serviço. Essa é minha dívida de gratidão."

A declaração surpreendeu Viajante. Ele sabia que os elfos levavam muito a sério esse tipo de jura, honrando tal palavra até o fim de suas vidas. "Isso não é necessário, Alamara!"

"É minha escolha", respondeu ela, erguendo-se e levantando um dos braços, sobre o qual pousou a grande águia branca, "Não voltarei atrás nessa decisão. E quem é você, Nathanael Garithos, que abandonou nome e família por desejar servir aos outros, para me admoestar?"

Viajante suspirou com a teimosia dela, mas ela tinha razão. "Então que a Luz a abençoe e a guie por este mundo, Alamara. Encontre sua felicidade." Por baixo do capuz dela, ele pôde discernir um sorriso de satisfação. E no instante seguinte ela já tinha desaparecido.

Viajante baixou a espada, que deixou de iluminar-se, e fechou a janela. Pensativo, retornou à cama. Ao deitar-se, Liezel virou-se para ele, aninhando-se instintivamente sobre seu peito. Por um instante, ele imaginou que ela estava acordada, mas logo constatou que a draenaia ainda dormia. O paladino questionou-se, contudo, se ela não teria despertado durante o encontro e ouvido a conversa que ele teve com Alamara. O questionamento logo sumiu de sua cabeça, quando ele próprio adormeceu.

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Alamara corria pela mata, seus olhos élficos discernindo com perfeição as formas na escuridão.  Seguiam-na duas águias, uma branca e uma marrom - Lazalle e Quelmarah - bem como um sabre-de-gelo - Albast - e dois lobos, um branco e um preto - Loupram e Arcanian. Como a mestra, os animais pareciam cheios de vida. Eles sempre a seguiam, eram seus olhos e ouvidos, protetores e amigos. Em geral permaneciam escondidos nas proximidades, mas naquela ocasião demonstravam a alegria da elfa, cercando-a e rodeando-a como numa dança precisamente executada.

Ela correu até alcançar um rio, onde parou, satisfeita. Logo retornaria a seu esconderijo na Ilha de Gigantes, mas aproveitaria a chance de se refrescar com água doce e corrente. Alamara sempre gostou de água, de banhar-se e limpar-se nela. Vinha da família dos Seguerrios, afinal. Era a última deles, na verdade.

Sob a vigilância atenta de seus animais, Alamara baixou o capuz e removeu o manto. Despiu-se então das luvas de couro, das botas, da cota de malha, do cinto e finalmente das calças reforçadas. Nua, saltou nas águas frias, refrescando-se. Ali permaneceu, esfregando o próprio corpo, sentindo as águas lavarem-na em corpo e alma. Era um banho purificador.

De corpo e alma despidos, Alamara sentia-se livre enfim. Remover as correntes do passado fora uma tarefa árdua, mas livrar-se do fardo proveu-lhe uma alegria infinitamente maior do que ela esperava. Para ela, uma nova vida começava naquele instante. Ela tinha feito as pazes com o passado.

A partir daquele momento, Alamara seria uma andarilha... Uma viajante...
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Encontros inesperados. Empty Re: Encontros inesperados.

Mensagem por Liezel, A Luz da Aurora Sáb Jun 15, 2013 4:04 pm

Ela sentiu, inconsciente disso, ele deslizar para fora dos seus braços; estava cansada e por um instante aquilo passou desapercebido. Sua consciência retornava em ondas leves, fugindo do sonho em que se encontrava para a realidade da noite; despertou ao ouvir o nome.. Liezel abriu os olhos, mas os fechou logo em seguida. A luz que eles emitiam, naquela escuridão seriam notadas facilmente. Reconheceu as vozes, mesmo que tão baixas, graças ao silêncio da noite que os cercava, por um instante, Liezel sentiu-se traída... Por que a Elfa retornava? Por que insistia em perseguir Viajante daquela forma? Mesmo depois de tudo que havia dito, depois de tudo que conversaram... Sentiu intensa vontade de levantar-se, de expurgar Alamara ali e agora, varrê-la de suas vidas de uma vez por toda, suas mãos fecharam-se nos tecidos macios da cama em que estava, e sua mente viajou em suplicas à Luz Sagrada, pedindo por ponderação, por misericórdia e paciência. Que se fosse para ser preenchida com algo, que não fosse ódio ou rancor, que fosse de Paz e Luz.

Assim sendo, permaneceu imóvel. Aguardando o fim daquele encontro que em tanto e por tanto tempo temerá.

Até ali tudo parecia correr bem, e Liezel relaxou.... Ao longe, enquanto abaixava a espada que emanava Luz, Viajante pode ver o brilho do olhar de um pássaro grande, os olhos da ave de rapina fixos nele, soube naquele instante que ela sempre esteve ali, desde o inicio da conversa – talvez até mesmo antes, como se previsse o que a elfa pretendia -, e que talvez nem Alamara se desse conta disso, a criatura de penas marrons o olhou fixamente por uns segundos, e depois alçou voou, seus apetrechos e enfeites tribais farfalhando no ar; não importava como ou onde. Alamara não estava mais tão sozinha.

Liezel aninhou-se a ele, recostando-se em seu peito aliviada. Achava que aquilo finalmente tinha acabado.

[…]

Dog days.

Há quanto tempo ela já não aparecia? Nakine às vezes era como chuva, em períodos constantes, sua presença era sentida dia após dia... Em outros, ela simplesmente desaparecia, como poeira, perdida nos ventos que viam de longe. Os dias passavam um a um e a druidesa já não dava as caras a um bom par deles, sem noticias, sem contato. E rastrear Nakine se tornará uma tarefa difícil, agora conhecia boa parte das artimanhas da elfa, aprenderá a driblá-las e contorná-las habilidosamente; não havia nada. Nenhum rastro, nenhuma pista, como se tivesse desaparecido no ar.

Porém havia algo sobre Nakine que Alamara sabia muito, muito bem; não importava quais caminhos a Taurena tomasse, não importava o rumo que seguia ou para onde pretendia ir; todos esses caminhos eventualmente a levavam de volta a apenas um lugar: O imponente Penhasco do Trovão. Era para lá que sempre voltava, onde suas energias eram repostas e sua mente descansava. Era um refugio, o único lugar em toda Azeroth que ela chamava de lar.

[…]

Do outro lado do mar, muito além das brumas, o Leão sentava-se sobre as patas traseiras. Sua cabeça martelava com tantas e tantas coisas que tinha visto no Sonho Esmeralda, as Águas pareciam cada vez mais tortuosas e destinos e laços que não queria manter ou fazer cada vez mais unidos. Sentia o peso de muitas e muitas decisões sobre seus ombros e como era duro levá-los, carregá-los. Por algum tempo tinha funcionado... Achava... Por algum tempo tinha sentido-se viva, parte de alguma coisa. Por um lindo e brilhante momento... Parte de algo...

Mas a realidade a trazia de volta constantemente: sua estrada era apenas sua. E tinha que trilhá-la sozinha. A vida tinha mostrado isso, e assim tinha que ser.

O Leão bufou pesadamente muito longe dali, em seu lar ela sentia a inquietação dos espíritos, principalmente a de um em especial; mas era só inquietação. Não havia aquela chamado urgente, aquela convocação, imaginava então que tratava-se apenas de curiosidade sobre o que tinha visto desta vez no Sonho, arriando as patas dianteiras, deitando-se na relva baixa. Quanto tempo tinha ficado fora? Não fazia ideia, talvez dias ou semanas, o tempo sempre fora relativo do outro lado do véu. Mas agora só queria deitar-se um pouco, aproveitar o silêncio e a Paz, antes de ter que seguir em frente.

Porém havia alguém muito interessado naquela amizade, alguém longe do toque e da visão. Alguém que atravessou as brumas, viajou pelo sonho esmeralda...

Alguém que ao longe, alcançou a Elfa nas terras distantes de Pandaria, e que sem se que ela soubesse, a olhava de perto.

[...]


As pessoas costumam dizer que a sensação de ser assombrado é semelhante a um choque: você se arrepia por inteiro, e sente uma constante presença em suas costas. Às vezes, pode jurar que escutou passos. Mas como saber? Como definir o que é imaginação e o que é real? Poucos teriam as respostas.
Em muitos casos, o contato era quase imperceptível.
Mas não daquela vez. Enquanto a criatura de postura esbelta e ágil esgueirava-se pelas relva da ilha das monstruosidades, alguma coisa aproximou-se, rápida o bastante para não ser vista; se é que podia ser vista. E um sopro sombrio como de um beijo profano pairou em seus ouvidos; era um sussurro, de muitas vozes e voz nenhuma:


A...che...-me... Em.... Mul...go...re..”

Por um instante, pareceu que as coisas haviam parado, que tudo perdera a cor e sentido, o arrepio provavelmente lhe ocorreu pela espinha e imagens da Aldeia Casco Sangrento vieram a sua mente sem motivo algum.

Ache-me em Mulgore. Era a frase.

Achar quem?

Achar o quê?

E quando levantou seu olhar a realidade, pode ver um lobo espectral afastando-se, correndo e desaparecendo nas brumas.
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Mensagem por Viajante, o Cruzado Seg Jun 17, 2013 7:53 pm

A respiração ofegava e o sol forte castigava-lhe a pele alva, mesmo estando protegida sob pesadas roupas de viagem. Com esforço, a elfa sangrenta continuava sua escalada pelo Rochedo Vermelho, lutando contra a exaustão. Por vezes, considerava desistir. Por que os sonhos a preocupavam tanto? Por que ela estava ali? Os questionamentos de Alamara cessaram assim que ela alcançou o topo e pôde ver a bela paisagem adiante:

Mulgore, terra dos taurens e de vastos campos verdejantes.

Descobrindo a cabeça, Alamara sorriu e sentou-se ali nas alturas da cadeia montanhosa que separava Mulgore dos Sertões. Aproveitando o vento para refrescar-se, sacou um cantil da mochila e bebeu sofregamente. Ela estava cansada, exausta na verdade, mas não tinha escolha: seu status na Horda a impedia de acessar Mulgore pelo Grande Portão, sua única opção era desbravar as montanhas. Perscrutando o horizonte, ela viu seu destino, o Lago da Ferradura, a sudoeste, bem como a silhueta do Penhasco do Trovão a oeste. Nos céus, uma solitária águia branca a seguia.

Respirando fundo para recuperar o fôlego, Alamara se levantou, sacou um cajado que levada às costas e começou a descer a montanha. Provavelmente anoiteceria antes que ela chegasse ao sopé, mas ela pretendia avançar o máximo possível antes que precisasse acampar. Se tudo corresse bem, chegaria à Aldeia Casco Sangrento em dois dias.

-----------------------------------------------------------------

Alamara despertou repentinamente no meio da noite. Com o coração disparado e a respiração forte, ela sentou-se e abraçou as próprias pernas, tentando recompor-se. Tivera aquele sonho de novo.

O sonho era sempre parecido, mas nunca igual. Um lobo fantasmagórico a chamava, cada vez mais inquieto. Desperta, Alamara questionava-se, e não pela primeira vez, se aquela empreitada não seria uma loucura. Talvez fosse uma armadilha para atraí-la a território da Horda e capturá-la? Mas não fazia sentido levá-la a uma terra tão longínqua apenas para isso. Mais fácil seria capturá-la em Pandária ou no porto da Vila Catraca, por onde chegou a Kalimdor.

Alamara se levantou, removendo-se do saco de dormir, e caminhou até a fogueira próxima. Estava na caverna que encontrara na descida da montanha, onde pôde se proteger dos ventos. Seu corpo estava quase todo exposto: vestia roupas leves de fino tecido talassiano que deixavam expostas suas pernas, braços e parte da barriga. Ao chão estavam a armadura e as roupas de viagem que usara para proteger-se do sol ao cruzar os Sertões. Não sentia frio, mas o calor da fogueira lhe era convidativo.

O sonho perturbava Alamara. Mesmo antes dos Tempos Sombrios, seu povo sempre foi pouco espiritual, mais voltado ao conhecimento e à razão; ideias como visões e contato com espíritos eram estranhas, prospectos de orcs, trolls e taurens. Por que ela era alvo desses sonhos? Alamara acreditava que os sonhos tinham algo a ver com Nakine. Será que sua amiga estaria em apuros?

Eventualmente, o sono venceria a elfa novamente, e o resto da noite prosseguiria tranquilo.

-----------------------------------------------------------------

A viagem continuara sem muitos imprevistos. Claro, no primeiro dia Alamara teve problemas com alguns mineradores ilegais da Empreendimentos S.A. nas montanhas, bem como fora emboscada por taurens da tribo Temível Totem nas planícies durante o segundo dia de viagem por Mulgore, mas nenhum dos eventos a atrasara demais. Nada que seu arco e a ajuda de sua águia Lazalle não pudessem resolver. Com certeza aqueles valentões não esperavam tamanha resistência de uma viajante solitária e aparentemente frágil.

O que importava era que, enfim, a elfa chegava às margens do Lago da Ferradura. O lago, que formava um semi-círculo, rodeava pelo norte, oeste e nordeste o destino de Alamara: a Aldeia Casco Sangrento, já visível logo além das águas. Ela parou na margem, removendo o véu pesado que protegia seu rosto e cabelos do sol, bem como os sapatos. Levantando as pernas da calça, sentou-se à margem, mergulhando os pés e lavando o rosto gentilmente com as mãos cheias de água. Ante ao sol forte, seu desejo mesmo era parar, despir-se e nadar naquelas águas acalentadoras, mas seria de mau gosto fazê-lo ali, onde os taurens pudessem vê-la.

A parada de Alamara não durou muito, ela logo prosseguiu viagem, contornando o lago pelo norte até alcançar uma ponte que levava à Aldeia Casco Sangrento. Perto do fim da travessia, guardas taurênicos barraram o caminho da elfa.

"Alto! Quem vem lá?", questionou o guarda, empunhando uma pesada maça e um escudo de madeira.

Em resposta, a elfa mostrou o rosto, mas manteve os longos cabelos ocultos sob o véu. "Eu sou Anadriele, de Luaprata", disse, usando com relutância o nome da mãe. "Estou a serviço do Relicário, apenas de passagem por estas terras. Meus negócios aqui serão breves."

"Ah, muito bem", disse o tauren, baixando a arma e dando passagem à elfa. "Saudações, viajante! Com sua silhueta e o corpo todo coberto, não tive certeza se tratava-se de um elfo ou um humano. Peço perdão por minha rudeza."

"Não houve ofensa alguma, valente, você faz bem seu trabalho", sorriu Alamara, "agradeço e admiro a hospitalidade dos taurens. Obrigada!"

O tauren sorriu em resposta. Alamara passou por ele. meio chateada por ter de esconder seu verdadeiro nome. Ela gostava dos taurens, apesar das diferenças físicas e culturais em relação aos elfos sangrentos. Eram um povo gentil, sábio e de confiança. Contudo, eles eram membros leais da Horda, e em sua última passagem pelo Penhasco do Trovão, agentes de Luaprata a descobriram e alertaram os líderes taurênicos. Ela sabia que quanto mais franca fosse com aquele guarda, maior risco ela correria de ser descoberta.

Já nos limites da Aldeia, Alamara parou novamente às margens do lago. Ali, removeu as roupas pesadas de viagem, revelando por baixo um vestido esverdeado que deixava seus braços livres e alcançava-lhe os tornozelos. As vestes eram de um tecido leve, que esvoaçava fácil aos ventos que sopravam pelas planícies; seu real objetivo era ter uma roupa que a identificasse como uma elfa sem prender seus movimentos caso precisasse lutar ou fugir. Manteve os cabelos presos e cobertos por um véu branco; quanto menos sinais que pudessem identificá-la, como os longos cabelos vermelhos, menor chance teria de atrair a atenção. Pondo o arco, a mochila e a aljava de flechas às costas, ela seguiu para o centro da Aldeia. Nos céus, a águia branca continuava a seguir a mestra, vigiando-a com zelo.

Alamara chegava a seu destino. Agora, restava-lhe descobrir o por quê de estar ali.
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Mensagem por Liezel, A Luz da Aurora Ter Jun 18, 2013 11:34 am

Quando seus olhos se abriram, ainda era dia, podia ver as nuvens brancas lá em cima, como pequenos guias a orientá-la. Não sentia tanto sono, e não compreendia porque dormirá tanto. Aos poucos, seu corpo felino ergueu-se do solo, espreguiçando-se em esticadas longas com sons de estalos aqui e ali. Chacoalhou-se, para livrar-se da grama presa no pelo e olhou em volta; ninguém por perto, ninguém que seus olhos ou sentidos apurados de felino detectavam. Porém, ainda sentia a estranha sensação de ser observada; imaginava que talvez se tratasse apenas dos velhos espíritos da Tribo, zelando por seu sono.



Sentou-se, com um respirar pesado; seus pensamentos voltavam-se a Alamara. A elfa costumava meter-se em problemas constantes, e ela tinha ficado longe tempo demais. A última vez que a virá fora no encontro com o paladino, que Nakine achava ter sido satisfatório, temia por aquele encontro, Alamara era imprudente e impulsiva, uma combinação perigosa. Mas aparentemente agora era tudo passado, posto onde deveria ficar: no passado. O Leão saltou para uma saliência mais baixa, começando a descer a colina em que estava, a Clareira da Lua não ficava assim tão longe, talvez algumas boas três horas andando e poucos minutos em voo. Ia andando, as ideias precisavam se acertar.

O silêncio do Xamã era incomodo, mas imaginava que a falta de novidades do Sonho não lhe despertavam interesse, seguia então sem mais preocupações.


[….]


Talvez fosse notável o motivo por Nakine gostar tanto de retornar a Mulgore, o lugar parecia perdido no tempo, esquecido de alguma forma, enquanto a batalha nos Sertões era intensa e continua... Mulgore permanecia em silêncio e paz. De modo pacifico, os Taurens levavam suas vidas como podiam.

A Aldeia em si era pacata, alguns filhotes taurens brincavam com um cachorro, correndo de um lado para o outro, habitantes olhavam a elfa com alguma curiosidade; não era comum viajantes pararem na aldeia, em sua maioria, seguiam direto para o Penhasco do Trovão, onde poderiam ter um melhor suporte ou auxilio, ou até mesmo viajar para outras cidades da Horda. A presença da elfa era estranha, porém não mal vista, muito pelo contrário, em sua maioria, eles pareciam cordiais e receptivos.

Mas em seus rostos, nenhum deles mostrava conhecimento ou ideia dos motivos e razões da elfa de estar ali; tão alheios quanto ela, provavelmente nenhum deles seria útil. Andar por ali às voltas não lhe traria nada... Talvez fosse apenas um sonho, talvez estivesse apenas preocupada demais com o sumiço da druida?


Então alguém segurou sua mão.


Os olhos amarelos e grandes, lhe fitavam com um conhecimento estranho, fixos no olhar de Alamara, a pequena criança tauren lhe encarava com a sabedoria de um ancião e a certeza de um guerreiro; era de cor clara, um branco límpido e vivo, seus chifres possuíam alguns pequenos enfeites tribais e suas roupas eram simples, porém muito bonitas. Na mão livre, a criança carregava uma boneca de pano, costurada em couros e tecidos, seu cabelo provavelmente vinha da crina de algum animal de Mulgore, seus olhos eram botões e seu sorriso feito de linhas.

– Ele estava se perguntando quando você viria.- Disse a menina a Alamara. – Está muito curioso ao seu respeito. – E ela riu, uma risadinha boba, enquanto movia a cabeça para os lados. A criança indicou um caminho com a cabeça, puxando sutilmente a mão de Alamara para que lhe seguisse por aquele caminho. Havia algo tão estranho naquele encontro, porque de alguma forma, Alamara sentia que aquela menina sabia quem ela era, e existia uma familiaridade grande... Por que Alamara também parecia saber, no inconsciente, quem era aquela garota.

A criança conduziria Alamara até fora da Aldeia, parando na estrada. Apontou em uma direção.

– Vê onde o Sol Eterno beija o solo? Siga na direção do Rochedo Vermelho. Não olhe para trás, nunca olhe para trás. Você o achará lá. – A criança lhe soltou a mão, e deu um passo para trás. – Que a Mãe Terra te guie.
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Mensagem por Viajante, o Cruzado Ter Jun 18, 2013 5:49 pm

Alamara fitou o Rochedo Vermelho e suspirou. Deixou por um instante transparecer irritação, afinal achava ter concluído sua jornada, apenas para descobrir que precisaria caminhar ainda mais.

"Quem é esse que está a minha espera?", perguntou a elfa, virando-se para a criança.

"Isto você descobrirá ao encontrá-lo", respondeu e menina com um sorriso inocente. Alamara percebeu nos grandes olhos da criança curiosidade e admiração em relação à elfa. Aquele olhar inocente desarmou-a de suas preocupações. A criança então perguntou: "Mas você vai carregando tudo isso?", referindo-se à pesada mochila.

"Não sei se será uma jornada longa, preciso estar preparada", respondeu Alamara.

"Quando se põem numa busca, nossos caçadores seguem pelas planícies apenas com suas armas, um cantil de água e roupas do corpo", respondeu a menina, curiosa. "Tudo o que é desnecessário é descartado. Não deve haver distrações entre o caçador e sua presa".

Alamara parou e refletiu. Descartar suas coisas? Mais uma vez receios de cair numa armadilha passaram por sua mente. Contudo, algo naquela menina indicava que isto se tratava de algo espiritual, um pensamento que para uma elfa como Alamara chegava a ser alienígena. Alamara pensou em Viajante, depois em Liezel e nas sensações que ela sentia na presença deles. Às vezes é preciso ter fé.

"Pode guardar minhas coisas? Voltarei depois para pegá-las", sorriu a elfa, abaixando-se diante da menina enquanto tirava a mochila das costas. Também removeu o véu da cabeça, deixando os cabelos vermelhos esvoaçarem ao vento, o movimento deles e sua cor vívida fazendo-os parecer em chamas.

"Será um imenso prazer. Guardarei-as na grande tenda no centro da Aldeia, junto com os pertences dos caçadores", a menina sorriu, pegando os pertences da elfa e questionando: "então você é uma grande caçadora, como os valentes de meu povo?"

"Isso é você quem vai me dizer quando eu retornar", a elfa respondeu, voltando-se para a direção apontada pela menina. "Vejo-a em breve, deseje-me sorte em minha caçada."

A menina respondeu em taur-ahe algo que parecia ser uma despedida. E assim, com um cantil, arco e flechas e nada mais que um vestido de tecido fino protegendo a pele suave e alva, Alamara pôs-se em direção às grandes planícies e seguiu viagem.

-----------------------------------------------------------------

O horizonte a oeste começava a avermelhar-se com o aproximar do por-do-sol. A manada de kodos pastava tranquila, alheia à predadora que espreitava arrastando-se pela vegetação rasteira e ocultando-se por trás de pedras e cumpinzeiros. Arco em mãos, flecha já preparada, a elfa apenas buscava o ângulo certo para um ataque rápido e decisivo.

Fome. Alamara tinha fome. Sua pele normalmente alva, exposta e desprotegida, agora se mostrava avermelhada devido ao sol forte que a castigara durante toda a tarde. O vestido da elfa se rasgava conforme ela rastejava para não alertar suas presas. Ainda assim, sentia-se viva, até mesmo feliz.

Por um momento, apoiando-se numa pedra, Alamara apontou o arco para o kodo maior e mais imponente. Depois hesitou: aquele ser magnífico podia até ser um bom troféu, mas ela não buscava troféus e sim sua própria sobrevivência. A elfa mudou sua mira para um filhote. A flecha voou certeira e mortal.

Os demais kodos assustaram-se, batendo em retirada. O maior de todos, líder da manada, por um instante fitou a elfa, que se expôs em pé, cabelos e vestido rasgado esvoaçando ao vento. Os olhos dela encararam os da fera, que instintivamente recuou, preferindo proteger sua manada a desafiar aquela criatura tão letal, apesar de esbelta e pequena.

Alamara aproximou-se de seu abate. O filhote ainda agonizava, mas sem forças para erguer-se. Uma segunda flecha pôs fim à dor. Depois, a elfa usou uma terceira flecha como lâmina, para penetrar a grossa pele do animal e cortar, num processo lento e trabalhoso.

"Idiota", murmurou Alamara a si mesma, "devia ter trazido uma faca. Aposto que os caçadores taurens levam uma com eles". Após os resmungos, a elfa logo se via rindo de sua própria estupidez.

Ao fim do processo, quando aves carniceiras e hienas já rondavam o corpo do kodo abatido, Alamara se afastou, carregando consigo pedaços de bife que logo iria assar numa fogueira improvisada longe dali. Fitou as próprias mãos, sujas do sangue da criatura, bem como o corpo coberto por respingos rubros. Por um instante, desejou que houvesse um rio ali para se lavar.

Contudo, a visão das mãos ensanguentadas despertava na elfa um sentimento estranho, primordial. Como que por instinto, passou a ponta dos dedos em suas bochechas e testa, marcando-se com o sangue da presa, como já vira caçadores taurênicos e trólicos fazerem no passado. Não sabia porque fazia aquilo, apenas sentia tal rito necessário para a jornada que empreendia.

-----------------------------------------------------------------

A fogueira crepitava, e Alamara saboreava sua refeição sob a luz do luar. A carne de kodo assada era temperada por ervas que a elfa encontrara em sua jornada, numa combinação que, embora não deliciosa, era satisfatória diante de um estômago vazio. Vista de longe, sob a luz do luar, talvez alguém a confundisse com uma elfa noturna devido a seu aspecto selvagem. Alamara estava suja, com o rosto pintado em sangue da caça, seu vestido rasgado e sujo e seus cabelos despenteados e soltos ao prazer do vento.

Muitas vezes antes Alamara se aventurara em terras ermas, vivendo da caça e das próprias habilidades, mas nunca de uma forma tão primeva como ali. Seu povo era meticuloso, sempre buscou a perfeição em tudo, inclusive na aparência, nos ritos, no discurso e nos pequenos atos do dia-a-dia. Ali, despojada daquela maneira, diante do fogo, açoitada pela vento, sob a lua e as estrelas e com o rosto manchado em sangue, ela se sentia mudada de alguma forma, como se tivesse descartado os disfarces da sociedade élfica e encontrado a si mesma.

Tão perdida estava naquela sensação de renovação e liberdade, que mesmo os sentidos aguçados da elfa foram tardios em avisá-la do perigo. Não foram sua audição ou visão aguçados, mas uma sensação mais primordial, como senso de perigo, que a fez jogar-se para o lado e rolar pela grama, desviando-se do golpe de um atacante furioso e sutil.

Alamara ergueu-se e fitou o inimigo: um lobo espectral de aspecto monstruoso. A criatura liberou um uivo que causava dor aos ouvidos da elfa, e então avançou num segundo bote. Alamara desvencilhou-se do segundo ataque, mas perdeu o equilíbrio e caiu rolando no chão.

O monstro rodeava Alamara, esperando a oportunidade para um novo ataque, mas já não era um lobo: a criatura agora surgia como uma hiena fantasmagórica. Assobiando para chamar sua águia, Lazalle, Alamara se ergueu num pulo. Por algum motivo, sua fiel companheira não atendia aos chamados. A fera espectral, que agora aparecia como um urso, atacou novamente, sendo mais uma vez evitada pela agilidade da elfa. Contudo, Alamara não fora rápida o suficiente para evitar o ataque por completo: as garras do monstro rasparam-na no braço, abrindo talhos por onde seu sangue escorreu.

Sem tirar a atenção da criatura, a elfa procurou por seu arco, que deixara ao lado de onde estava sentada antes de ser atacada, diante da fogueira. Num movimento rápido, Alamara arremeteu-se na direção do arco, sendo seguida de perto pelo monstro feroz, agora aparecendo no aspecto de um tigre.

Sem perder velocidade e num piscar de olhos, a elfa saltou no chão, agarrou o arco, rolou pela grama, levantou-se num pulo e virou-se para o predador, flecha já sacada da aljava e arco armado para o abate. O monstro veio em seguida, numa arremetida mortal, presas afiadas à mostra. A flecha voou certeira para dentro da boca da fera, e Alamara desviou-se para lado, escapando do bote do adverário. Quando caiu no chão, o monstro, agora em forma humanoide, já estava morto. Alamara aproximou-se e fitou a criatura. Para sua surpresa da elfa, ela viu a si mesma caída no chão.

Alamara despertou. O braço doía como se tivesse sido rasgado por garras, mas não havia ferimento. Ela ainda estava sentada diante da fogueira, o arco ao seu lado. Fora um sonho? Uma visão? Um presságio? Confusa, foi surpreendida por uma voz potente ecoando ao vento.

"Você carrega muitos medos dentro de si", disse a voz.

Alamara levantou-se, sacando o arco e armando uma flecha, e virou-se para fitar o recém-chegado.

"Ishne'alo'porah, Alamara Seguerrios", disse o estranho. "Eu estava aguardando você, elfa sangrenta." E os olhos sábios dele encontraram-se com os dela.
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Mensagem por Liezel, A Luz da Aurora Qua Jun 19, 2013 1:19 pm

Ela fremiu as narinas, havia algo de muito errado no ar, não.. Não exatamente no ar em si... Estava perdendo algo. Estava deixando algo passar. Aquela quietude não era normal. A druidesa parou, e encarou a vastidão azul a sua frente, seus olhos de um tom âmbar fixos no celeste azul. Não era dia. Não podia ser dia; quando adormecerá era manhã... Havia passado tempo demais, não podia ser dia. Nakine olhou para trás, vislumbrando a distorção temporal do sonho; podia ver-se ali, deitada na grama de Kalimdor, ainda adormecida.


Então a realidade caiu como um soco no estomago. ele estava fazendo isso. O maldito Xamã estava fazendo isso. Um arrepio lhe percorreu a espinha, de frustração e irritação. Era ele, mas por que? Por que....


Nakine franziu o cenho.


Alamara.


Ele não podia fazer isso. Não podia, rugiu, com toda a força de seus pulmões, um rugido que ecoou por toda a fina camada do real e da ilusão, e de dentro do sonho, de volta a realidade, a Taurena despertou. Ela rosnou, os dentes apertando-se um contro o outro, enquanto seu corpo se erguia rapidamente, não houve tempo para corridas enquanto a mudança acontecia de uma forma para a outra, Nakine assumiu a forma de pássaro, alcançando voo e ganhando os céus; precisava impedir aquilo.



[…]


O grande Rochedo Vermelho era um simbolo para os Taurens, um lugar sagrado, onde apenas aqueles que valeram-se em vida eram sepultados; por merecimento, por honra e gloria, era o descanso dos muitos e muitos heróis da raça.


Mesmo que um lugar com ares mórbidos em alguns sentidos – ao menos diante da visão de outras culturas – o Rochedo Vermelho era banhado em Paz, uma serenidade talvez só sentida pela Elfa junto aos Guerreiros da Luz, àqueles que dedicavam suas vidas a Sagrada Luz. Havia um ar misterioso em volta, e a sensação de tantos e tantos olhos sobre si, porém, mesmo assim, havia paz.


Mas ainda sim, não havia sinal de nada naquele lugar, nada que pudesse dar-lhe a entender porque seus sonhos ou visões estavam lhe arrastando para tão longe, para um lugar tão... Peculiar para os Taurens.

Quem era aquela garota?


Tomada pelas dúvidas... Os acontecimentos vieram.


Ele a aguardava, ali, parado como um grande Totem, observando-a em seu sonho antes de despertar; seu rosto ocultava-se nos apetrechos de seu elmo que lhe escondia a face; assemelhava-se a um animal; um lobo talvez. Porém seus olhos ambares brilhavam através das frestas no elmo, fixos no olhar de Alamara. Suas vestes eram puramente cerimoniais: As ombreiras eram grandes patas de felino, num cinza forte, com garras afiadas. O torso da roupa era sobrepujado pelo tabardo do Penhasco, suas mãos carregavam ocultavam-se em mais um par de patas e uma túnica cinza cobria-lhe as pernas.


Ele olhou a elfa de cima a baixo por um instante, e depois sorriu de forma cortês, moveu a mão que segurava um cajado rústico de madeira, com alguns penachos na ponta.
– Sei que quer perguntar. – Disse, finalmente quebrando o silêncio, o sorriso se mantinha ali, ele moveu-se, cerceando a elfa e olhando a fogueira. – Mas me diga... O que realmente a trás aqui?


Havia algo de estranho naquele ser, algo muito além da compreensão e dos sentidos. Alamara podia vê-lo, podia ouvi-lo, mas não era como se ele realmente estivesse ali. Sua imagem era frágil, como se fosse desfazer-se com um simples farfalhar de ventos, seus passos não emitiam ruídos e sua respiração não deixava rastros de som...


Ele a encarou, o âmbar de seu olhar fixo no verde vil da Elfa, e sorriu de novo.
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Mensagem por Viajante, o Cruzado Qua Jun 19, 2013 5:05 pm

"O que realmente a traz aqui?", o grande xamã diante da elfa questionou.

A pergunta frustrava Alamara. Antes que respondesse, contudo, ela primeiro buscou sinais de emboscada, seus ouvidos e olhos perscrutando o ambiente ao redor. Nada. Em seguida, analisou o tauren diante dela, obviamente um xamã pela indumentária. Ela não tinha sequer certeza se ele estava mesmo diante dela ou se era alguma espécie de imagem ou ilusão. Lentamente, ela baixou o arco, relaxando a guarda.

"Não tenho a menor ideia do que estou fazendo aqui", a elfa desabafou, "Eu esperava que você tivesse respostas. Afinal, você que me mandou aqueles sonhos, presumo?"

O xamã a fitou intrigado, analisando as reações da elfa, que claramente demonstrava irritação. "Então, você cruza dois continentes e arrisca-se a ser capturada sem saber a razão?", ele questionou num tom que Alamara não conseguia discernir se era zombeteiro ou intrigado.

"Eu...", Alamara começou a responder, mas hesitou e fez uma pausa para refletir. "Naki...", ela murmurou o apelido carinhoso que dera à amiga taurena, hesitou novamente, e afinal respondeu: "Eu senti que isto de alguma forma estivesse relacionado a Nakine... Talvez ela me enviando um pedido de socorro, não sei."

"E você cruzou o Grande Oceano e os Sertões por ela?", o xamã arguiu, seus olhos dourados analisando cada reação da elfa.

"Ela é irritante e mal-humorada", respondeu Alamara, "mas é uma amiga fiel e ajudou-me quando eu mais precisei. Eu jamais a deixaria desamparada".

O xamã sorriu, então virou-se, fez um sinal para a elfa e pôs-se a caminhar. "Venha, então. Tenho muito a revelar".

Alamara fitou o tauren afastar-se. Pendurando o arco junto à aljava em suas costas, ela se pôs a seguí-lo.
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Mensagem por Liezel, A Luz da Aurora Seg Jun 24, 2013 1:21 pm

"- Mandar sonhos? "- Riu-se o Tauren por um instante.  "- Não  sou detentor de tal poder, infelizmente. Sonhos são projeções de nossos desejos ou medos." - Acrescentou com um suspiro, observava Alamara por uma perspectiva diferente do normal,  seu olhar era perdido, mas ao mesmo tempo focado; as chamas não refletiam nele.

"- Oh, talvez eu tenha as respostas."- Afirmou. "- Mas tu sabe quais são as perguntas? " - E voltou a sorrir, levando as mãos as costas e caminhando ; ali a fogueira crepitava, as chamas formando pequenos desenhos de animais, da lua... De estrelas.  E um lobo tornou-se pássaro, que tornou-se cervo que tornou-se uma orca e então urso e desapareceu.

"- Sim, sim! Ela é!" - Concordou o Tauren sobre a druidesa, e riu de novo, seus ombros movendo-se no processo. E ali, na penumbra do Rochedo Vermelho,  Alamara o seguia, mas o via aos poucos desaparecer na noite, como se talvez nunca tivesse estado ali.

Podia ouvir sua própria respiração,  seu coração pulsante...

"- Você sabe quais as perguntas? " - Ele voltou a questionar,  longe dos olhos da Elfa, envolto em toda aquela névoa de espiritualismo.

"- Por que está aqui, Alamara Sergueirros?"
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Mensagem por Viajante, o Cruzado Seg Jun 24, 2013 5:16 pm

"Eu já disse, não sei porque estou aqui", respondeu a elfa cada vez mais frustrada e confusa, "Achei que tinha sido chamada para cá. Eu... eu esperava descobrir ao chegar..."

Imediatamente, Alamara sentiu-se cansada. Teria a jornada sido uma perda de tempo? Teria ela simplesmente confundido um simples sonho com algo maior? Estaria ela tão morta espiritualmente que teria confundido uma alucinação com um mensagem divina?

Para o povo de Quel'thalas, razão e conhecimento sempre foram preteridos à fé. Mesmo a Luz que Viajante e Liezel adoravam era vista mais como uma fonte de poder do que um princípio moral. Humanos, anões e até mesmo os seus antepassados kaldorei eram vistos como tolos supersticiosos, que se ajoelhavam ante a grande poder ao invés de tomá-lo e domá-lo para o bem de seus povos. A elfa crescera educada por tais preceitos, e agora eles a impediam de encontrar uma resposta.

Alamara sentia-se uma idiota por estar ali e não saber responder aquela simples pergunta. Os pensamentos negativos tomaram-na, arrebatando-a e deixando-a calada e distante. Toda a sensação de vida e liberdade que sentira durante os esforços da viagem desaparecia, dando lugar a dúvidas e cansaço.

"Eu... eu achei que Nakine estava me chamando... ou que ela precisasse de mim...", Alamara continuou, murmurando hesitante, buscando uma resposta que pudesse satisfazer ao xamã. "Ou talvez eu desejasse encontrar algo para mim, algo para me dar propósito ou direção... Não sei... Talvez não haja nenhum motivo para estar aqui... Talvez eu realmente seja só uma grande idiota..."

E dizendo isso e sentindo-se patética, a elfa baixou a cabeça e fechou os olhos, deixando ao xamã o direito de julgá-la.
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Mensagem por Liezel, A Luz da Aurora Ter Jul 02, 2013 12:44 pm

“ - Talvez ela precise.” - Respondeu a voz do Xamã, mas não presente: respondeu na mente de Alamara, tão distante e próxima ao mesmo tempo. “ - Talvez Nakine precise de você mais do que ela faz parecer, talvez você precise dela mais do que pode imaginar. Um proposito? Você tem, sempre teve, um proposito a trouxe aqui.”

As chamas crepitaram novamente, num estalo da madeira sendo consumida, o vento era frio, soprando entre os cabelos leves de Alamara... De olhos fechados, ela não via a dança dos elementos a sua volta, o Xamã não estava mais ali, talvez nunca estivera para dizer a verdade. Sua presença inconstante perdia-se nas brumas, e graças a sua raça e sua cultura, Alamara era incapaz de compreender que ele era como todos os outros; um espirito. Apenas um espirito.

O silêncio foi o percursor: Nada. Nem pássaros, nem vento, nem as chamas. Nada fazia barulho, nada havia a volta. Alamara estava sozinha... Então abriu os olhos. Não estava mais no Rochedo Vermelho, não tocava mais a terra barrosa... Era relva. Grama verde e bonita... Um olhar mais atento e veria que não pisava na grama, Alamara flutuava levemente acima do chão, apenas o suficiente para não tocá-lo. O ar estava fresco, como se tivesse acabado de chover, havia uma leveza em todo aquele lugar que não se encontrava em lugar nenhum.

Ao longe, o horizonte exibia o inicio do dia, o grande Sol deixando seu descanso para florescer num céu azul e limpo, e ali, foi que Alamara viu os vultos formando-se, sentado à beira de um penhasco estava um felino de porte grande, em seu pelo, pintava-se muitas runas e glifos tribais, no pescoço pendurava-se um emaranhado de contas e penas, era Nakine, por algum motivo que não compreendia, Alamara sabia que era Nakine, uma Nakine muito mais nova, muito longe da realidade em que ela conhecia agora. Porém, por mais que tentasse, Alamara não conseguia se aproximar de Nakine.

Então Alamara ouviu passos.... Pesados, imponentes, ela se virou, e observou o Guerreiro Shu'halo se aproximar. Era um Tauren grande, talvez o dobro de seu tamanho, às suas costas o grande e pesado machado reluzia as poucas luzes do dia; manchas de sangue mesclavam-se ao couro e as tiras que compunham a arma tão rustica e brutal. Ele parou alguns passos da druida, a observando ali; havia um pesar tão grande em seus olhos que Alamara quase pode sentir sua dor; aguda, a dor da perda, dor que Alamara conhecia bem, por algum motivo, Viajante lhe veio à mente.

– É a tradição. – O Shu'halo disse, com a voz de trovão, firme e poderosa, trazendo Alamara de volta. – Mas não é o que desejo. – Completou.

– Mas é o que deve ser. – Respondeu a jovem druida, sem se virar para ele. O Shu'halo respirou fundo, com um ruido pesado.

– Mitena...

– Esse não é mais meu nome. – E a druidesa se levantou, o felino virou-se para o Shu'halo, eles se olharam em silêncio num sentimento que Alamara também reconheceu: um adeus dolorido e pesado. – Que a Mãe Terra zele por ti, Yakecan, Som do Céu, e que teu casamento seja abençoado pelos espíritos. Salve a Mãe Terra. – Ela lhe deu as costas, caminhando na direção oposta, ele ficou ali, por um instante, antes de se despedir para o nada, quando ela já havia partido.

– Adeus, Nakine, Espirito Livre Indomado, adeus... – E ao fim, ele pronunciou algo em sua língua, que Alamara compreendeu como “meu amor”.


Então ela foi puxada, como por um tufão, e teve a sensação de girar e girar infinitas vezes nos ventos fortes e indomados, sua mente estava submersa no nada.... Até abrir os olhos.

O fogo subia as mais altas árvores, lambendo as folhas e espalhando a fumaça; a correria era intensa, o som pesado das montarias e o som dos gritos e brados, e espadas e flechas. Era difícil compreender a imensidão – e os motivos – de tudo aquilo, mas Alamara sentia-se estranhamente leve; ela corria, mas não com seus pés, corria com as patas de um felino poderoso, corria unida a Mãe Terra, em seu corpo fluía a força, a flexibilidade e o vigor de um poderoso Leão. Saltava com maestria e facilidade, sua mente trabalhando mais rápido do que podia-se imaginar para calcular a queda, o lugar – era natural saber quando e para onde saltar, tão natural como respirar -, desviando-se de corpos e destroços. Quem eram os inimigos? Ela não se importava... Precisava achar o Shu'halo, precisava achar Som do Céu.

Desviou-se para a esquerda, fugindo de um contingente pequeno, enfiou-se na mata, o focinho no chão procurando... Então achou. Um rastro, misturado ao cheiro fresco que sangue, seu coração pulou no peito, num desespero silencioso e solitário, Alamara/Nakine disparou, suas patas fofas levantando folhas e grama, e correu como se sua vida dependesse disso. E dependia.

Houve um estalo, uma árvore tombava, Alamara achava que estava no Vale Gris, naquela guerra idiota entre os elfos e Orcs, por que o Shu'halo havia sido enviado para lá?

Então ela parou, seu olhar de felino atravessando a escuridão. E seu coração parou no peito.

Era ele.

Era seu corpo, ao menos.

Alamara/Nakine moveu-se devagar, um turbilhão de sensações e sentimentos passando por si; O Shu'halo havia se casado com a escolhida pelo Chefe Guerreiro Shu'halo, como mandava a tradição, Som do Céu não lhe pertencia mais, desde o momento em que a cerimonia fora consumada, Som do Céu não podia ser mais seu, mas eles estariam sempre juntos, Nakine achava, tinham nascido para ficarem juntos...

Mas não ficaram.

E agora ele estava...
Ela parou, cerceou o corpo inerte do Tauren, seus olhos inquietos, podia ver a ferida nas costas, que provavelmente atravessava o peito: fatal, uma flecha talvez. Havia sinais de luta também, o Shu'halo deveria ter lutado até o fim.... Um sentimento de impotência lhe tomou, sentiu-se inútil... E vazia. Nakine deitou-se ali, ao lado do Shu'halo, tomada pelo nada... E aquele sentimento engoliu Alamara num novo turbilhão.


A pira funerária queimava; Som do Céu queimava para sua última homenagem pelos vivos, Nakine em sua forma Taurenica observava ao longe, sentada numa rocha, os olhos fixos, aos poucos, eles iam dispersando-se, enquanto o fogo queimava, Nakine se levantou pronta para se afastar, quando outra Taurena se aproximou dela. Elas conversaram algo que Alamara não compreendeu; e a jovem Taurena entregou um colar a Nakine – Alamara reconhecia aquele colar, Nakine o usava em sua forma voadora – elas se afastaram, uma em cada direção.

E de novo, a Elfa foi tomada pelas mudanças drásticas, naquilo que pareciam ser... Lembranças? De relance, ela viu momentos de sua própria vida, momentos após conhecer Nakine; viu pequenos momentos em que a druidesa despistou perseguidores da elfa, ou momentos em que na escuridão das brumas, Nakine zelava por seu sono, por seus passos, oculta e silenciosa.

Então Alamara sentiu dor.

Seu corpo todo doía, como se tivesse feito um grande esforço físico, o suor escorria de sua testa em gotas grossas, atingindo o chão do Rochedo Vermelho, ofegava muito, quase sem folego. Já era dia, o sol estava lá, brilhante, esfregando-se em sua face, a fogueira da noite anterior estava apagada. Ao longe, o Xamã sentava-se, observando, tranquilo, a grande imensidão de Mulgore, quando notou o retorno de Alamara, ele sorriu.

- Como foi a viagem? – Perguntou, tranquilo. – Encontrou suas perguntas?

E um estalo percorreu sua mente cansada; Alamara compreendeu. Aquele Tauren, aquele Xamã ali com ela... Estava morto, morto como Som do Céu também estava, mas quem era ele?
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Mensagem por Viajante, o Cruzado Sáb Jul 06, 2013 9:10 am

Alamara ofegava caída ao chão, seus braços sem força para erguê-la. A elfa sentia o corpo todo arder, enquanto sede e fome intensos a consumiam por dentro. Como podia estar tão exaurida? Era como se estivesse correndo por dias até o ponto em que todas as suas energias tivessem sido consumidas pelo esforço.

"Os taurens jovens são treinados para a caçada que os fará adultos", disse o xamã, observando o sofrimento da elfa sangrenta. "Eles não resistem quando os espíritos os procuram, ao invés disso os aceitam. Você se exauriu ao resistir, lutou com todas as forças sem nem perceber."

"Ela...", Alamara balbuciou, a boca seca e os pulmões ardentes dificultando até mesmo a fala, "Naki... Nakine... Eu vi. Agora entendo. Eu sabia! Sabia que ela escondia algo! Podia sentir..."

A elfa não percebia, mas lágrimas escorriam de seus olhos, misturando-se ao próprio suor e ao sangue de kodo seco em sua face. Naquele momento íntimo em que fora una com Nakine, ela pode sentir todo o sofrimento da amiga. Aqueles sentimentos despertavam nela memórias de seus próprios momentos mais traumáticos. Sua vívida memória élfica voltava a décadas anteriores, reviviam tragédias de uma vida marcada por elas.

Alamara lutava em vão para se erguer, sujando-se mais e mais na poeira, rasgando mais seu vestido. Ela viu Lazalle, sua águia branca, pousar próxima, e tentou estender a mão ao animal como se implorasse por ajuda. Antes que a águia ou o xamã tomassem qualquer atitude, a elfa perdeu a consciência.

--------------------------------------------------------------------------

Aos poucos, Alamara recobrava os sentidos, primeiro ouvindo o som do vento e sentindo o calor do sol intenso. Lentamente, abriu os olhos e viu-se caída nas proximidades do Rochedo Vermelho, os restos da fogueira da noite anterior logo adiante. O corpo doía, sentia a boca seca e o estômago faminto. Levantou-se com dificuldade, arrastando-se um pouco antes de conseguir se erguer. Cambaleou até recuperar o equilíbrio, então se aproximou do cantil largado no chão. Bebeu sofregamente, praticamente esvaziando o recipiente.

Ao seu lado, a elfa notou Lazalle pousada e carregando o cadáver de um cão da pradaria em seu bico. A ave tinha caçado algo para a mestra se alimentar. Alamara sorriu como pôde e se pôs a reacender fogueira para assar sua comida. Ao mesmo tempo, olhava ao redor, procurando o xamã. Não havia sinal dele.

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O sol tinha se posto há pouco menos de uma hora, e a lua se erguia em seu lugar. Alamara preparava-se para a viagem de volta, após descansar o resto da tarde. Com as forças debilitadas, seria melhor viajar à noite, longe do sol que queimava-lhe a pele alva até o ponto de ficar avermelhada e ardente. Tinha descansado à sombra do rochedo durante a tarde, após se alimentar. Sua água tinha acabando, mas ela pretendia repô-la em algum dos poços taurênicos que vira pelas pradarias. Pegou arco, cantil e aljava e pôs-se a caminhar.

"Encontrou suas perguntas, elfa sangrenta?", a voz do xamã veio por trás dela.

"Sim, creio que sim", ela respondeu, sem virar-se para fitá-lo. "Eu sempre suspeitei que Naki escondia uma grande melancolia, agora sei o que é. Eu ainda não sei como ajudá-la, mas estarei ao lado dela, como ela esteve ao meu."

"Durante seu sono de exaustão, você parecia inquieta", observou o xamã, "A Mãe Terra trouxe-lhe alguma revelação?"

"Ah...", expressou a elfa, fechando os olhos verdejantes, "sonhei com o passado... e acho que com o presente e o futuro também. Revi muitos momentos ruins, desde criança, e alguns bons. Eventos que me tornaram quem eu sou... E também vi perigos à minha espreita, coisas a me preocupar no futuro."

"Há várias sombras pairando sobre você, Alamara de Luaprata, mas sua jornada espiritual terminou por enquanto", disse o xamã, "você se tornou mais forte que era no início, mas também mais sábia. Cuide bem de minha Mitena, por favor."

Alamara virou-se para o xamã finalmente e sorriu. "Cuidarei".

E a forma do xamã desapareceu na escuridão, sua voz ecoando pelo vento: "Que a Mãe Terra proteja e guie vocês."

"Descanse em paz", Alamara murmurou.

E assim, passo a passo, a elfa sangrenta seguiu seu caminho, guiando-se pelas estrelas. As pernas doíam, estava cansada, seu vestido era pouco mais do que trapos sujos, mas sentia-se aliviada. Seu objetivo era retornar à Aldeia Casco Sangrento, mas ela se questionava se sua jornada ainda lhe reservaria surpresas...
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Mensagem por Liezel, A Luz da Aurora Ter Jul 23, 2013 12:20 pm

"Quando você descobre todas as
respostas, a vida muda todas
as perguntas."


As coisas não tinham saído exatamente como ela queria que fossem; Alamara visitará o espirito do Xamã, e aquilo a irritou, pois a Elfa não deveria tê-lo feito, certas coisas, Nakine achava, deveriam ficar onde pertenciam: enterradas e enclausuradas, Alamara havia passado dos limites e seu último encontro com a Elfa fora tenso e insatisfatório. Nakine se afastará. Suas atividades agora envolviam coisas que evitava a Elfa, sua mente e atenção estavam voltados para outros pontos, como as coisas reveladas a si no Sonho Esmeralda, a druidesa tornara-se cada vez mais ausente.

Você cruzou a linha era a única frase que ecoava em sua mente. Alamara havia cruzado a linha, e Nakine não sabia como lidar com aquilo.

Dirigira-se para os Sertões, afim de tentar ser útil em alguma coisa para Baine e Vol'jin, mas não permanecerá por muito tempo; sua mente estava confusa e seu caminho, antes tão certo e detalhado agora era um embaralhar sobre seus pés, sem certezas ou direções. Não sabia para onde ir, e se não sabia, qualquer caminho servia. A Clareira da Lua tornou-se seu pequeno refúgio por algum tempo, era o único lugar onde poderia conviver com os Elfos numa união de semelhança; eram todos druidas, afinal.

Mas seu espírito não conseguia ficar parado; os ventos estavam mudando, Garrosh tramava algo grande, todas as coisas levavam a crer nisso e o Sonho Esmeralda lhe dava cada vez mais pistas não concretas do que estava por vir. Estava a Horda fadada ao fracasso nas mãos do Chefe Guerreiro? Seus encontros com Dezco lhe deixaram pensativa a respeito dos humanos e de sua Aliança, Baine tinha certa consideração pelo filho do Rei; que antes rogavam ser um inconsequente predatório, mas Varian parecia diferente agora; havia alguma esperança naquela... União? Era essa a resposta? Conhecer o casal da Sagrada Luz também a fizera pensar; mas preferia desconsiderá-los. Viajante era um idealista, Liezel uma ingenua.

No meio de toda essa confusão de pensamentos, a grande ave de rapina que era a forma voadora da Taurena pousou nas dunas de areias de Uldum; não sabia bem o que a tinha levado para lá, era um bom lugar, isolado e deserto e Alamara jamais pensaria em lhe procurar ali. Aos poucos seu corpo moldou-se e deu lugar ao grande felino, que camuflando-se, se ocultou nas areias, rumando em direção ao próximo Oásis. Talvez as respostas estivessem bem em baixo de seu nariz, precisava apenas enxergá-las.
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Mensagem por Viajante, o Cruzado Ter Jul 23, 2013 5:09 pm

A viagem de retorno provara ser ainda mais exaustiva do que a ida ao Rochedo Vermelho. Com as pernas doloridas e a pele ardida sob o sol quente, Alamara fitou com satisfação a Aldeia Casco Sangrento surgir à frente, logo após as águas do Lago da Ferradura. Água. A elfa sorriu com o pensamento de que poderia banhar-se finalmente.

O sol começava a baixar além das montanhas no horizonte. A caminhada ainda tomaria talvez uma ou duas horas. Alamara ponderou apressar o passo, mas achou que seria melhor descansar e prosseguir durante a noite. Parou sob a sombra de uma árvore, tomou um gole do cantil e sentou-se ao chão. Sentia-se exaurida.

Por um momento, ela fitou os céus, onde via sua águia branca circulando-a acima. "Fiel Lazalle", Alamara pensou. De certa forma, ela estava um pouco decepcionada; esperava que Nakine aparecesse, talvez descendo dos céus em sua forma de pássaro, mas não teve sinal da amiga. Nakine sempre fora reservada e misteriosa, como será que reageria ao saber que seus segredos tinham sido descobertos? Sentiria raiva? Fugiria de Alamara? A elfa não sabia e tinha certo medo em descobrir. De qualquer forma, mesmo que Nakine a rejeitasse, Alamara permaneceria ao lado dela, ajudando-a como pudesse.

A elfa inspirou fundo e soltou um longo e cansado suspiro. Não resistiu a fechar os olhos, e acabou por cochilar um pouco.

--------------------------------------------------------------------------

A lua já estava alta no céu estrelado quando Alamara finalmente alcançou a grande tenda dos caçadores. A Aldeia Casco Sangrento estava adormecida; alguns poucos Valentes patrulhavam os arredores, e a elfa fora capaz de esgueirar-se pelas sombras sem ser vista. A tenda diante de si fora onde a menina taurena dissera que deixaria os pertences de Alamara, logo antes da elfa partir em sua caçada espiritual pelas planícies.

Esgueirando-se para o interior da grande tenda, os olhos apurados da elfa logo discerniram as formas dos caçadores taurens adormecidos e não demoraram a encontrar seus pertences num canto. Seguiu furtivamente até a mochila, pegando-a e puxando-a para si. Estranhou o peso. Estaria ela tão cansada que mesmo o peso que normalmente carregava ao viajar parecia tão grande?

"Alto! Ladra!", uma voz poderosa veio da escuridão. Um caçador tauren se levantou, erguendo consigo uma poderosa lança rúnica. "Ladra!", ele repetiu, num tom mais alto, e despertando outros caçadores. Um dos Valentes que patrulhava a vila surgiu pela entrada da tenda, carregando um lampião que encheu o interior de luz.

O primeiro instinto de Alamara foi fugir, mas seus olhos rapidamente percrutaram a situação e ela percebeu estava acuada. Sete taurens e duas taurenas bloqueavam o caminho até a saída, encarando-a e empunhando arcos, lanças e carabinas. Sem largar a mochila, ela ergueu os braços à frente do corpo, como que para mostrar que não estava empunhando armas - seu arco ainda estava preso às costas - e tentar acalmar os ânimos.

"Não sou ladra!", disse a elfa. "Estava em uma caçada, deixei minhas coisas aqui e vim pegá-las para partir, só isso", explicou.

O Valente se aproximou, seu lampião revelando melhor as feições élficas de Alamara. Os taurens presentes se surpreenderam com a aparência dela: cabelos maltratados pelo vento, pele ardente por exposição ao sol, pouco mais que trapos sobravam-lhe do vestido, cortes e escoriações espalhadas pelo corpo esguio e sangue seco de kodo enfeitando seu rosto. Não esperavam um aspecto tão selvagem e maltratado em uma elfa.

"Uma caçada, elfa?", questionou o Valente, "Apenas taurens caçam como rito nessas terras. Às vezes um ou outro troll dos Lança Negra vêm a Mulgore para caçar conosco. Mas uma elfa sangrenta? Isso não é nada comum."

"Estive aqui há quatro dias, trazida por visões", explicou Alamara. "Uma menina taurena me instruiu a procurar um velho xamã no Rochedo Vermelho. Ela deixou meus pertences aqui, para que eu caçasse ao modo dos taurens: somente roupas, arma e cantil, nada mais. Tive visões em minha jornada e agora retorno. Essa é a verdade."

Alguns taurens baixaram as armas, não vendo perigo nas ações da elfa, mas outros permaneceram desconfiados. O Valente analisava cuidadosamente a expressão de Alamara, mas parecia ter dificuldade em reconhecer sinais de sinceridade ou falsidade numa face tão diferente das feições taurênicas. Alamara estendeu a mochila a ele. "Olhe dentro da mochila. Não há roupas que serviriam em um tauren ou num troll, e há joias e pertences sin'dorei", explicou a elfa.

"Isso não prova que são seus, nem te dá o direito de esgueirar-se nas sombras para obtê-los", disse o Valente, enquanto analisava o conteúdo da mochila.

"E de quem mais seriam? Há alguma outra elfa sangrenta que passou por aqui e partiu numa caçada, deixando seus pertences nesta tenda?", questionou Alamara. "E quanto a entrar despercebida, apenas julguei sábio não interromper o descanso de ninguém. Não conheço muito sobre suas tradições e não vi ofensa no que fazia."

O Valente a fitou, sua expressão séria se relaxando um pouco, e devolveu a mochila. "Se a Mãe Terra lhe permitiu sucesso na caçada, e se os espíritos dos ancestrais lhe concederam uma visão, então não serei eu quem a julgará. Noto em você as marcas de alguém que teve sucesso numa jornada, da mesma forma que os jovens caçadores shu'halo se tornam touros nos ermos selvagens de Mulgore. Qual é seu nome, caçadora?"

"Alamara Seguerrios", ela sorriu, pendurando uma das alças da mochila em seu braço. Só então percebeu que estava tão cansada que revelara seu nome real ao invés de usar o de sua mãe, como fizera ao chegar à Aldeia. Por um momento, sentiu-se uma grande idiota e preocupou-se, mas logo relaxou ao perceber que ninguém a reconhecera. "Preciso partir logo", ela completou.

"Tão logo que não pode permanecer conosco e compartilhar sua história esta noite, à luz da fogueira e comendo e bebendo conosco?", o Valente perguntou.

"Agradeço imensamente a hospitalidade, mas minha visão me trouxe urgência", mentiu Alamara, imaginando que seria uma questão de tempo antes que seu nome fosse sussurrado a alguém que o reconheceria. "Preciso chegar a outro lugar logo."

Os taurens presentes relaxaram, alguns deitando-se novamente. O Valente deu passagem a ela. "Então, que a Mãe Terra guie seus passos, Alamara".

--------------------------------------------------------------------------

Água fresca. Tomada certa distância da aldeia e sob a luz do luar, Alamara mal podia acreditar que finalmente se refrescaria. Deixou seus pertences junto a uma rocha, desarmou-se do arco e aljava e arrancou de si os trapos que restavam de seu vestido. Nua, adentrou nas águas do Lago da Ferradura e ajoelhou-se, fazendo a água cobrir-lhe até um pouco acima de cintura. Pegou um punhado e lavou o rosto, esfregando as mãos para livrar-se do sangue seco que a enfeitava.

"Você não tem pelos e é muito magrela", uma vozinha veio por trás da elfa, surpreendendo-a.

Alamara se alarmou. Como alguém poderia espreitá-la sem ser percebido? Seria Nakine? Não, a voz não era de Nakine, embora parecesse. Ela se levantou e virou-se para a margem do lago, onde viu a pequena taurena que a recebera na aldeia dias atrás olhando-a curiosa. Vê-la fez Alamara baixar a guarda, embora envergonhada pela própria nudez.

"É tão diferente", disse a taurena, "seu povo acha bonito esse corpo sem músculos nem pelos, todo branquelo e magrela?"

Alamara riu baixinho e sorriu para a criança. Mantendo-a na visão, voltou a abaixar-se para lavar-se. "Acho que sim. Acho que elfos e humanos gostam. O que está fazendo aqui, tão longe da Aldeia, no meio da noite?"

"Não estamos tão longe assim. Corri para alcança-la quando ouvi as histórias que estão contando na Aldeia sobre você". A menina taurena sorriu de uma forma inocente, ainda analisando intrigada o corpo da elfa.

"É? E o que disseram de mim?", Alamara questionou.

"Que você é uma grande caçadora, como os Valentes dos taurens. Como eu sabia que você seria, mesmo sendo tão magra e franzina e pequena!", a menina riu.

Alamara riu de volta, fitando a criança taurena, achando-a estranhamente parecida com Nakine. Seriam parentes? Ou será que toda criança taurênica se pareceria com Nakine aos olhos de um elfo?

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Ainda com os cabelos molhados, Alamara se vestia, ajudada pela infante taurena. Já tinha aplicado uma pomada para aliviar as queimaduras na pele, bem como vestira a calça, cinto e botas. No momento, punha já sobre o torso a cota de malha que, embora de proteção limitada, permitia-lhe movimentos ágeis em combate.

"Para onde você vai agora?", perguntou a menina, enquanto via Alamara colocar sua típica capa esmeralda.

"Eu? Para os Sertões. Ouvi dizer que está acontecendo uma revolução por lá. Aliança e Horda se voltando contra o Chefe Guerreiro. Quero ver com meus próprios olhos", respondeu a elfa pensativa. De novo iria para as montanhas, as atravessaria para evitar o Grande Portão e seguiria para os Sertões. Ali, não tinha certeza do que faria. Envolveria-se no conflito? E se agentes de Luaprata a descobrissem? E se esbarrasse com Viajante ou Liezel? Ou com Nakine?

"Então que a Mãe Terra a guie, Alamara. Espero vê-la novamente algum dia!", disse a menina, começando a retornar à Aldeia.

Alamara sorriu, acenou em despedida e, cobrindo a cabeça com o capuz esverdeado, seguiu para as planícies. Qualquer que fosse seu destino, ela o encontraria nos Sertões.
Viajante, o Cruzado
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